Até mais... Caro Amigo Gino

Os homens bons não morrem, apenas trocam a alma de casa”.
           
Essa afirmação deve ser verdade, mas, sempre que alguém do nosso convívio é convidado a desarmar a sua tenda, nessa passagem terrena, somos envolvidos por uma dor profunda que parece se fixa no fundo do coração.
            Mais profunda, ainda, é a dor quando laços de uma velha e fraterna amizade nos unia a este alguém.
            Assim, foi com o Gino.
            Genuíno Antônio Ferri. Na verdade, não partiu só o homem. Partiu o escritor, o professor, o historiador. Partiu o companheiro, o conselheiro, o parceiro de um bom copo de vinho. E foram muitos. A vida nos concedeu este privilégio. Partiu, ainda, o amigo querido, o pai presente, o avô extremoso, o bisavô orgulhoso. Partiu, também, o incansável trabalhador: 27 obras publicadas. Tive a honra de revisar a grande maioria. Isso sem contar com os livros inacabados, espalhados pelas gavetas, mais os incontáveis artigos, palestras, reportagens, registros. Partiu, enfim, o visionário. Um homem admirado, festejado, um forte, tanto que precisou erguer um memorial, para ser o guardião de suas histórias, suas relíquias e o legou à posteridade. Nada mais justo do que ter um lugar só seu para guardar suas distinções. Deixou uma contribuição sociocultural inestimável.
            Mesmo, assim, choramos todos. Choraram os rios, as matas, os pássaros, as flores e as crianças, a quem Gino dedicou especial atenção. Foi um homem honrado, movido pela esperança. Um homem diferenciado, podem crer. Também, sensível, às vezes até tímido como um menino assustado, quando, emocionado uma lágrima furtiva teimava em escorrer pela face. No entanto, ao acordar o gigante que morava dentro dele, despertava as nossas emoções, nossos risos e também nossas lágrimas.
            A ferro e fogo forjou essa têmpera de aço. Os desafios não foram maiores que os seus sonhos, venceu a todos.
            Tinha uma atração especial pelo conhecimento.
            Tempos difíceis. Esperanças frustradas, sonhos interrompidos, promessas não cumpridas. Trabalhou desde muito cedo. Vencia grandes distancias a pé, para ver nos finais de semana a sua amada. Tempos duros. Exemplo de superação, talvez por isso fosse tão humano.
            Gino nasceu em Encantado. Terra que amou de forma incondicional. Terra de seus pais. Seus ancestrais vieram do outro lado do mundo, mais precisamente, de Valdástico – Itália. Daí surgiu o Gemellágio, projeto de sua autoria que tornou Encantado cidade irmã de Valdástico, transformado, posteriormente, num livro bilíngue, livro muito apreciado.
            Gino teve uma vida longeva. Viveu 94 anos. Mesmo, assim, pareceu vida curta.
            A que atribuir essa longevidade?
            Penso que ao amor. Foi um homem amante da vida, que teve um fantástico caso de amor com a humanidade. Amou com todas as suas forças a Vanda, sua mulher, sua eterna namorada, como ele dizia. Tia Vanda, como carinhosamente era conhecida, entre tantas virtudes era uma exímia cozinheira. Na verdade uma “chef de cosina”.
            Foi, também, um homem que se alimentou muito bem, de forma saudável, num clima tranquilo saboreava cada bocada. E, como bom italiano, num ritual quase sagrado acrescia a sua refeição diária um “pitcher de vin”.
            Assim, chegou ao descanso do guerreiro. Sua missão, entretanto, não foi fácil: ensinar, pesquisar, documentar... o que não o impediu de cumprir suas tarefas com abnegação. Isso lhe valeu viver bem, feliz.
            Escreveu muito. Escreveu sua própria história com maestria – E que maestria...
            Hei! Esperem, foi um homem bom, Por isso, “só trocou a alma de casa”.
            Então, até mais caro amigo Gino.

Com carinho,
Suíca
Maria Suely Pochmann